Eis o Pedro Miguel na tarde do seu
casamento e da foto disse o Zé João que ele parece um fazendeiro sul-americano
de 1860 ou por aí. Quanto à Rita, a noiva, que não desmerece a invocação, é uma
latina clássica, podendo ser argentina ou venezuelana pelo mate da pele e muito
sul da europa pelas feições. Um belo par, para despachar o retrato; oxalá o
tempo os favoreça na aliança que celebraram.
O Pedro Miguel é o primogénito da
Carlota e andava ainda no infantário quando ela começou a trabalhar cá em casa
– de algum modo ele e o Zé João, o meu filho nascido pouco depois, cresceram
juntos, ostentam ainda no sorriso e no abraço que dão quando se encontram – por
muito que a vida os tenha levado por distintos caminhos – o prazer comum a
pessoas que assistiram às respectivas infâncias.
Um dia, há vinte e dois anos, o
telefone tocou demasiado cedo cá em casa, ainda mal amanhecia. “Porra, quem
seria?”, pensei, alarmado, pois telefones a uma hora daquelas... Era a Carlota
e queria uma opinião médica. Estava grávida de fim de tempo e acordara inundada
com as águas rotas: o que achava eu que devesse ser feito? Não achei nada, saí
de casa a correr e conduzi os vinte quilómetros até à urgência do hospital de
Torres Vedras com tiques de ambulância. Foi assim que desovou o Ricardinho, que,
no Sábado, assistiu ao casamento do irmão de óculos escuros, brinco na orelha e
poupa no cabelo a esticá-lo ainda mais alto do que o metro e oitenta e tal que
Deus e a boa comida da mãe lhe deram.
No meio disto tudo (ainda nem saíramos
da igreja da Ramada para alvejar os noivos com uma saraivada de arroz colorido
e pétalas de rosa), o João Pedro, o pai do noivo, chorava como uma madalena,
aquele homenzarrão!
“Você está num lindo estado”,
disse-lhe eu ao ouvido no abraço que demos.
“Que é que quer?! Vê-los assim
criados, de repente; e depois ver aí chegar o Zé...”
Sim, essas partes eu compreendia. O
tempo correra sem aviso por todos nós e o Zé João voara os mais de 3.000 km de
Leipzig até aqui para estar no casamento do velho amigo. Quanto à mãe do noivo,
essa chorou menos do que eu imaginaria, mas compreendo ser a atitude mais
prudente para manter a maquilhagem num estado de caiação aceitável!
Esta cena da choradeira passou-se por
volta da uma da tarde e eram umas nove da noite quando deixei a boda, em
Alenquer, uns bons 60 km a norte da igreja onde se celebrou o matrimónio.
Na manhã de Domingo, a Carlota passou
por cá a deixar umas amostras de bolos da boda e contou que a festa tinha
acabado por volta das três da manhã, que o Zé João dançara como um louco.
“Estou a ver...”, respondi, “e você
não parou de falar a noite inteira – até está rouca!”
© (1) Fotografia oficial do casamento; (2) Pedro Serrano, Ramada (Odivelas), Junho 2013.
Um dia marcante, senão o mais marcante nas nossas vidas que pudemos viver com as pessoas que nos são mais próximas. Obrigada pela sua presença Pedro Serrano e da Ana. Gostámos muito do post. Um grande obrigada.
ResponderEliminarAgora que regressámos do Quénia onde vivemos momentos únicos, voltamos à rotina. Beijinhos.
Ass:Rita e Pedro
@ Rita e Pedro, Obrigado pelo vosso comentário. Foi um gosto grande estar no vosso casamento, um belo dia e uma bela cerimónia. Abraços e beijos.
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