Embaixada
do Irão fechada, a razão deve-se a uma espécie de feriado, não conseguimos
compreender se turco ou iraniano.
Passámos
pela agência de viagens, mas deparámos com evasivas quanto à partida da
camioneta para Teerão – que voltássemos amanhã. Será que estamos a ser
ludibriados como pensa o Des?
Confesso que
já nada disso me incomoda muito: um certo medo da viagem que tinha em Portugal
e não ousava confessar; os atrasos sucessivos; as embaixadas fechadas: tudo se
evapora como cirros ao vento. Quero lá saber, vai-se vendo e, afinal, qual é a
pressa?
O Overland to India, que continua a ser a
minha leitura mais assídua, embora não passe de um canhenho sem capa de cerca
de cinquenta folhas A4 fotocopiadas e dobradas ao meio; embora não seja mais do
que um pasquim, preso por um único agrafe, contém informações e conselhos preciosos,
quase todos baseados em cartas escritas ao editor por pessoal que fez estes
caminhos e escreveu a contar. Um desses conselhos, apresentado logo nas páginas
iniciais, em maiúsculas, refere que uma das primeiras regras a observar para
fazer uma viagem por aqui é: slow down!
O que, traduzido em miúdos e como a prática nos ensina rapidamente significa
que temos de viver ao sabor do que acontece e cultivar a paciência como
virtude. O teu autocarro ia partir hoje e não partiu? Não importa, talvez parta
amanhã... A embaixada do Irão está fechada? Não te rales, talvez esteja aberta
amanhã... Esta é a atitude, outra qualquer leva um tipo a passar-se e a
desistir, a fugir.
Que foi o
que aconteceu ao Des que, como referi, andava muito nervoso e inseguro com tudo.
Decidiu partir, não esperar mais, nem pelos nossos vistos nem por um transporte
directo para Teerão. Foi andando. Pode ser que nos voltemos a encontrar por aí.
Voltámos a ficar os dois e, lá no fundo, sinto-me aliviado.
Entretivemos
o fim da manhã e parte da tarde no nosso café do costume, o sucessor do nosso
poiso em Atenas, onde os clientes do costume nos fazem o aceno do costume. O
Rui lançou o I Ching sobre a pergunta
“Como se resolverão as actuais dificuldades e como prosseguirá a viagem?”.
Tilintando e rodopiando no mármore antes de tombar, as moedas desenharam os
hexagramas 39 e 61: 39 (Chien) Os
obstáculos e 61 (Chung Fu) A Verdade
Interior.
Ao
anoitecer, quando saíamos do Lâle Pudding Shop para dar uma volta no jardim do
lado de lá da avenida encontrámos parte dos companheiros da camioneta
Atenas-Istambul, os nossos benfeitores: iam a caminho da Mesquita Azul ver um
espectáculo de son et
lumière.
Fomos também, conversando e rindo como velhos amigos que decidiram sair à
noite. A lua, em forma de crescente, posicionava-se exactamente sobre a cúpula,
equidistante aos seis minaretes que, cinzelados na elegância de torres de
castelo de conto de fadas, apontavam o céu como velas esperando ser acesas pela
varinha mágica da Sininho. Depois, enquanto Vénus cintilava no azul-negro como
um pirilampo, a voz amplificada do Sultão fez-se ouvir em colóquio com o Vizir;
deste com o Arquitecto e deste com o Mestre-pedreiro e, agora numa apoteose de
luzes e coros, soa no ar o recitativo emocionado do Sultão, senhor do Islão,
quando, em 1600 e pouco, viu tudo aquilo construído.
Nota: "Slow down, you move too fast", da canção "The 59th Street Bridge Song", de Simon & Garfunkel, álbum Parsley, Sage, Rosemary and Thyme, 1966.
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