26 abril 2015

A MULHER À JANELA

Domingo, depois da hora do almoço. Ondulava a caminho de casa quando vi atravessar-se-me no campo visual a seguinte cena:
Havia aquele prédio virado a norte e no andar do rés-do-chão, numa das janelas que dava para o passeio estava uma velhota debruçada. A sua interlocutora era uma mulher de meia-idade que, inclinada sobra a mala aberta de um automóvel extraía de lá um objecto que – ainda não conseguira eu campo de visão para ver o que era – já ela louvava.
A maravilha era um guarda-chuva, daqueles vulgares de Lineu, que custam entre três e cinco euros em qualquer loja dos chineses. Mas a mulher de meia-idade abrira-o com um altivo plof de peru, rodava-o, cantava a sua plenitude, beleza e pechinchice perante a mulher à janela. Esta, esmagada e esvaziada pela profusão de adjectivos lisonjeiros já proferidos pela outra, sem saber mais o que acrescentar, mas querendo agradar, acabou por comentar:
“É... tem muita vareta...”

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